Não fazia muito tempo, eu estava com uma caveira no peito, infernizando a vida dos pretendentes ao Curso de Comandos Anfíbios (Operações Especiais do Corpo de Fuzileiros Navais). Fazendo de tudo para que poucos tivessem a honra de usar a caveira pregada nos seus uniformes.
Agora eu estava de terno e gravata, e em vez da minha mochila e do meu M16, carregava um laptop (avô pesado e grande, de tela âmbar, dos notebooks de hoje) e um projetor e um data show (nem sei se vale explicar o que era isso, de tão pré histórico… melhor você procurar no Google.)
Ao invés de atacar um objetivo, com a minha equipe, eu estava entrando num auditório mega formal, com o brasão do Tribunal Federal no púlpito, e sozinho.
Era bem no início da década de 90 e o Tribunal estava sendo pioneiro e equipando os juízes com computadores que usavam o sistema operacional DOS, o mais popular na época. A empresa para qual eu trabalhava, havia tido seu processador de textos escolhido para o uso dos Excelentíssimos juízes.
Escrevi o parágrafo de cima e a sigla DOS ficou saltitando! Caraca! Quantos irão ler essa crônica e não vão ter a mínima idéia do que foi esse tal de DOS! Explico ou não explico? Quer saber? Vai na Wikipédia e descobre, tá? Vou ser bonzinho e colar o endereço aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/DOS
Pois bem. Cheguei mais cedo, preparei tudo e esperei a chegada dos Excelentíssimos.
Eu havia sido muito bem treinado pela empresa. Além disso, sempre tive muita confiança para falar em público, mas comecei a ficar completamente apavorado!
O meu público alvo tinha uma austeridade impressionante, além de, pelo menos o dobro da minha idade!
Como fazê-los interessados, dispostos a aprender? Todos tinham secretárias que datilografavam suas sentenças e agora o Tribunal queria que eles fizessem esse trabalho! Um absurdo, na concepção daqueles senhores e senhoras!
Comecei com uma piadinha que não fez o menor efeito… Tô ferrado, pensei!
Resolvi entrar no jogo sério e formal. O desconforto ia se concretizando nos pingos de suor que molhavam o meu rosto…
E aí… fui salvo!!!
Uma juíza, bem senhora mesmo, levantou a mão e fez uma pergunta. Não lembro qual, mas lembro que foi bem básica e aproveitei o momento: “ Gostei tanto da pergunta da senhora que, se a senhora permitir, vou lhe dar um presente.”
Tirei um boné da empresa da minha mala 007 (mais uma coisa para você procurar no Google) e entreguei à juíza, respeitosamente, após sua concordância fria.
O jogo virou! Imediatamente, todos começaram a gritar um “também quero” e fiz o que eu sabia fazer de melhor: apresentar o produto com distribuição de confetes (as balinhas coloridas, feitas de chocolate), bónes e outras tranqueiras.
Hum… o que podemos aprender desse episódio? Novamente, pessoas! Aprenda a apertar os botões certos e você vai ver que as pessoas são sempre pessoas, apenas isso! Afinal, quem não gosta de confete?
Não importa a posição, o título, as formalidades iniciais. Gente é gente! (e você pode liderá-las, mesmo sem uma caveira no peito e um fuzil na mão).
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